P E R F E I T A I M P E R F E I Ç Ã O
Pinturas de Susan Mendes
Todos os corpos da artista Susan Mendes
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Artista plástica liberta formas femininas das molduras sociais, transforma embalagens de eletrodomésticos em telas e redimensiona marcas e imperfeições do tempo em exposição na Casa dos Rosa
"Acabei me formando em matemática porque queria estudar algo mais difícil, pois achava que arte era algo muito simples para se cursar numa universidade", recorda a professora aposentada da rede estadual Susan Maria Cantergiani Ribeiro Mendes, 65. "Hoje percebo que a arte é muito desafiadora, a matemática pode ser exata, mas uma obra artística a gente começa, sem nunca ter certeza de como ela vai terminar." Será que equações e fórmulas ajudam de alguma forma na subjetividade da artista ainda hoje? "Arte e matemática não são tão distantes: estudei piano por 11 anos, os compassos, as oitavas, tudo é matemático", avalia a artista plástica Susan Mendes. "Nas minhas telas, acho que a matemática ainda ajuda a trazer uma noção de proporção, equilíbrio de cores e tamanhos." Só que muita água rolou até que esse sonho com tintas saísse das margens da vida profissional de Susan e ganhasse o papel central que a arte sempre teve no coração. "Fui empresária na área de informática, tive uma marca de roupas esportivas", revela. "Por 40 anos fui artista, mas apenas em 2015 fiz minha primeira exposição, na Gravura Galeria de Arte, da Capital." Na atual fase, a inspiração negocia com o desenvolvimento técnico nos encontros do Grupo de Estudos de Arte Contemporânea promovido pela curadora Ana Zavardil (MARGS, Bienal do Mercosul, MACRS) responsável pela atual exposição de Susan, em Canoas, chamada "Mulheres de Outubro". "Ana ensinou que a arte contemporânea é o processo e também a apresentação do trabalho, todas as interferências no percurso da obra", analisa a artista. "A Ana é uma curadora muito requisitada, fiquei feliz de vê-la entusiasmada com o meu processo de sair da pintura plana, tirando a mulher da moldura e trabalhando com o papelão corrugado que coleto nos entulhos da Capital."
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Detalhes
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Colagem de jornais em telas de papelão que já protegeram geladeiras, fogões e televisores. Trechos de poemas femininos, tintas acrílica, guache e carvão são alguns dos "segredos" mais aparentes do trabalho de Susan. Detalhes do corpo feminino, a beleza das imperfeições, a delicadeza do tempo (arrebatado de todos os seres humanos) se expressam na obra de Susan, visível apenas para os mais sensíveis. "O papelão é simbólico, a sociedade descarta o que não quer mais, o mesmo acontece quando a mulher não representa mais o ideal de perfeição", aponta. "Apresento o nu feminino, mas uma nudez que é um despir-se de preconceitos, da carga emocional e de cobrança imposta sobre a mulher." Aos 65 anos, Susan afirma lidar bem com o tempo. A exposição busca também auxiliar outras mulheres a divertirem-se com as fases que a vida reserva. "O tempo nos dá a distância para avaliar melhor o que importa", afirma. "Hoje sou avó de três, duas meninas, é quando a gente se dá conta da passagem do tempo, hoje as meninas estão mais conscientes do poder feminino. A imperfeição do corpo é uma condição humana." A anatomia feminina é algo que mobiliza as forças de Susan, além de todas as discussões sobre o ser mulher. "Acho os seios lindos, algo inspirador para trabalhar com arte", avalia. "Gosto de pintar o efeito de volume, a luz e a sombra, a gordura, a pele, as marcas que o tempo deixa no corpo."
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JEISON SILVA
Última atualização: 23.10.2019 às 09:57