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Desnudando conceitos na arte

 

Um corpo nu retratado sobre a superfície irregular do papelão tem destacadas suas imperfeições. Mesmo imóvel e bidimensional, é uma representação de um ser real, despido de conceitos e estereótipos de beleza. Corpos nus que, por meio de defeitos, manifestam sua veracidade são o tema da exposição imPERFEITO, da artista Susan Mendes. 

 

A pintora caxiense radicada em Porto Alegre apresenta seu trabalho ao público nesta quinta-feira (1º), às 19h30, na Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim da Casa da Cultura. A mostra poderá ser visitada durante todo mês de setembro, de segunda a sexta, das 8h às 17h, e aos sábados, das 10h às 16h.

 

Formada em matemática, Susan trocou a frieza e objetividade dos números pela subjetividade e passionalidade da arte. Há tempos a pintora tem trabalhado com foco nas formas humanas, principalmente na figura da mulher. “Sempre achei a questão do feminino algo muito forte”, afirma. Intrigada, questionava a forma pela qual as mulheres são vistas e a ditadura da beleza a elas imposta. 

 

Susan expõe que há uma dicotomia entre o que se espera, social e fisicamente, das mulheres e o que elas realmente são. “As mulheres que chamo de reais têm uma gordurinha a mais, uma barriguinha e elas envelhecem”, relata a artista, que argumenta que, mesmo em um mar de imperfeições, a sociedade de consumo ainda cobra uma perfeição utópica. “Por isso comecei meu trabalho sobre mulheres possíveis, para fazer com elas consigam se aceitar como são. Somos perfeitas dentro das imperfeições que temos”, destaca. 

 

A mensagem de Susan não está apenas na arte, mas também no suporte escolhido pela artista. “Faz muito tempo que eu gosto do papelão pela textura e pelo resultado que ele apresenta”, conta. Há dois anos a pintora tem intensificado suas pesquisas com o material, o que resultou em novas técnicas. Abordando-o pelo viés do descarte, Susan traçou um paralelo com a situação feminina. “As pessoas acabam sendo descartadas por uma conveniência. Por exemplo, é muito mais fácil trabalhar em uma tela quando ela já é plana”, reflete. 

 

A exposição contará com, aproximadamente, 30 obras de diferentes tamanhos, subdivididas em duas propostas. A primeira foi chamada de corpos imperfeitos e traz mulheres retratadas integralmente; a segunda releva partes ainda mais que imperfeitas. Susan espera que essas obras sejam o suficiente para que sua mensagem chegue aos espectadores. “Desejo que pessoas consigam entender meu olhar sobre o feminino, sobre sustentabilidade e reaproveitamento, sobre o descarte de pessoas e de tantas outras coisas”, revela.

 

Nudez como sinônimo de liberdade 

 

Susan convida à reflexão sobre formas pouco convencionais pela maneira na qual apresenta suas personagens: nuas. Anônimas, elas se tornam, por meio da nudez, sinônimo de liberdade. “Representa o fato de nos despirmos das coisas que nos amarram e que tiram a liberdade de nossos movimentos”.  

 

Conforme a atriz, a nudez das mulheres significa que eles despiram-se das convenções sociais, daquilo que as soterra e as oprime. “Elas estão livres para assumirem o que elas realmente são com seus corpos e se aceitarem dessa forma”, observa.

Apesar da nudez, as personagens não têm rosto, o que faz com que as espectadoras se identifiquem com as obras. “Eles se enxergam nas pinturas”, conta. 

 

Uma das primeiras leituras da exposição de Susan partiu da curadora Silvana Boone. Sintetizando o trabalho da artista, Silvana diz: “Motivada pela veia racional, advinda da sua formação em Matemática, a artista incorpora as operações básicas dessa área “exata”: multiplica corpos imperfeitos, divide os corpos em partes, subtrai a identidade das mulheres retratadas e a todas elas, soma a beleza imperfeita, que às vezes, faz mais sentido na arte do que na vida”.

Artista caxiense Susan Mendes apresenta a exposição imPERFEITO, na Galeria Gerd Bornheim, da Casa da Cultura. A mostra conta com cerca de 30 obras de diferentes tamanhos. 

 

MAYARA ZANELLA

redacao@folhadecaxias.com.br

Folha de Caxias

31 de agosto de 2016 ·

Fotos: Karolyn Petrucci

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