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Mulheres de Outubro

 

O conjunto de obras da exposição Mulheres de Outubro propõe uma reflexão a partir de pinturas de corpos femininos apresentadas em duas instalações e convida o público a um olhar mais atento e sensível para entender os significados ali contidos. Susan Mendes explora o universo feminino em sua poética e pontua questões relevantes sobre o tratamento dado à mulher nos dias de hoje.

 

Duas instalações rompem com o espaço e trazem à tona a experiência sensorial em sua plenitude, pois há um discurso um pouco diferente do usual. A violência infringida à mulher nesta exposição diz respeito à saúde e representa a vida e a morte. O fio tênue que separa uma da outra nos é revelado no instigante trabalho da artista. 

Mulheres de Outubro apresenta 17 pinturas sobre papelão em duas instalações feitas com diferentes tecidos e materiais. As obras são construídas com características que exploram polaridades entre as matérias, visto que ora são opacas e resistentes, ora transparentes e frágeis. Entretanto, trazendo a temporalidade marcada em suas superfícies, discutem a vida que está por trás delas. A mesma diferença entre força e fragilidade pode estar representando a mulher, já que ela também tem as mesmas singularidades. A exposição pondera sobre questões femininas e, sendo realizada em outubro, reflete sobre o Outubro Rosa, mês que vem sendo símbolo de cuidados com a saúde da mulher. 

O ponto alto da exposição, que tem como destaque os cuidados dedicados ao câncer de mama, mostra uma mama gigante que ocupa toda a sala perpassada por um fio que sai dela e chega ao chão. As cores do fio que vão do roxo ao quase branco passam a ideia da doença que chega à cura. A outra instalação revela mamas de todas as mulheres (saudáveis, doentes e ausentes) e expressa claramente os estágios entre vida e morte. Em seu potencial artístico, Susan Mendes fala sobre o tempo e a sua passagem corrosiva como metáfora da impermanência. 

As pinturas e as instalações são obras de grande valor plástico e elaboradas com rigor técnico-formal de uma artista que sabe o que quer. As figuras femininas imprimem um ritmo à exposição e mostram mulheres, independentemente de suas raças, idades ou gênero, que relatam uma experiência plástica e delicada ao mesmo tempo. Essas figuras, perfeitas em suas formas e técnicas, permitem que o sensível revele o outro lado, ou seja, o da luta pela vida. 

O trabalho já conhecido pelas suas características, como apropriação de papelão de embalagens descartadas, colagem de jornais e títulos poéticos (muitas vezes tirados de poesias), tem como foco a figura feminina e aponta as opressões sofridas pela mulher em uma sociedade de consumo, em que padrões são impostos em detrimento do sofrimento na busca do ideal de beleza. Com o avanço de suas pesquisas sobre tecido, a artista usa-o para representar a mulher, ultrapassando a potencialidade do belo para interpelar a fragilidade humana. 

Susan Mendes dá um salto em sua trajetória artística impulsionando o seu fazer para uma experiência ampliada entre a razão e o coração e trazendo diversos tempos que a sua arte faz caber em um mesmo espaço. 

Ana Zavadil – Curadora 

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