P E R F E I T A I M P E R F E I Ç Ã O
Pinturas de Susan Mendes
VERMELHO
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O VERMELHO me emociona, fala de força e energia, fala de dor e perigo, fala de vida e morte!
O vermelho, cor do sangue e da vida, simboliza a vitalidade e a energia
A cor vermelha, central na série "Vermelho", possui uma vasta gama de significados e efeitos emocionais profundamente enraizados na psicologia humana e nos estudos da cor. Psicologicamente, é associada a emoções intensas, tanto positivas quanto negativas. Fisicamente pode aumentar a frequência cardíaca, elevar os níveis de adrenalina e induzir um estado de excitação física e mental.
O vermelho é uma cor complexa. Pode incitar uma grande dualidade de sentimentos, como poder, coragem, força, e também advertência, perigo e agressividade. Tem o poder de atrair e repelir, fascinar e intimidar, proporcionando uma rica tapeçaria emocional para o espectador. É uma cor que não passa despercebida, exigindo atenção e evocando uma resposta emocional imediata.
Na série "Vermelho", a utilização da cor é uma metáfora visual para as emoções intensas que envolvem a busca pela liberdade e a rejeição dos padrões impostos. O vermelho das figuras representa não apenas a vulnerabilidade exposta, mas também a força intrínseca de cada mulher. É a cor da revolução interna, da paixão ardente por auto aceitação e da luta contra as correntes sociais que tentam aprisionar e moldar as identidades. O vermelho evoca uma sensação visceral de urgência e intensidade.
Ao destacar o vermelho nas minhas obras, busco não apenas atrair o olhar, mas também provocar uma introspecção emocional. Quero que o espectador sinta o calor, a energia e a urgência da cor, questionando seus próprios preconceitos e percepções. É um convite para desnudar a alma e abraçar a intensidade das emoções humanas em toda a sua complexidade
Através da nudez e do vermelho exponho a vulnerabilidade humana, revelando a carne viva que resiste e persiste. Estes corpos não apenas se despem das vestes físicas. Despem-se da opressão e do preconceito. Nus, denotam a coragem de enfrentar e desafiar as normas sociais que tentam moldar e limitar sua identidade feminina. Estas mulheres querem sentir as sensações à flor da pele, podendo desvelar quem são, do que gostam, de quem gostam... de quem não gostam mais...
Ao mesmo tempo, corpos gigantes na instalação: A morte ronda as mulheres que se despem, remetem à força, vitalidade e à resistência. Eles são um tributo ao espírito combativo presente em cada mulher que se recusa ser silenciada, subjugada ou oprimida e luta por sua autonomia e voz.
Nesta instalação, as cruzes que simbolizam o fardo pesado que muitas mulheres carregam ao se rebelarem contra a submissão, a invisibilidade e o silêncio forçado. As maiores vítimas de feminicídios são aquelas que se recusam a aceitar a opressão e lutam por sua autonomia e voz. Tornam-se vulneráveis ao mesmo tempo que poderosas, alvos fáceis ao mesmo tempo que forças imensuráveis.
Infelizmente, o Brasil enfrenta um índice crescente de abusos, estupros e feminicídios.
A cada 8 minutos, uma mulher ou menina é estuprada; por dia, 4 mulheres são mortas. Estes números são um grito de socorro que não pode ser ignorado. A violência contra a mulher, seja física, sexual ou emocional, continua a crescer, evidenciando a necessidade de uma mobilização coletiva e de políticas públicas efetivas para a proteção das mulheres.
Nunca tantas mulheres sofreram tanto pelas mãos daqueles que as "amam demais". Até quando suportaremos caladas à extrema situação em que a mulher se encontra?
Mais do que nunca, precisamos ecoar nosso grito, derrubar barreiras e expor o que muitos preferem ignorar.
Através destas obras, convido o espectador a refletir sobre a realidade brutal enfrentada por muitas mulheres. Que estas figuras nos lembrem da força inquebrantável das mulheres que se recusam a ser definidas por estereótipos e que, com coragem e determinação, despem-se das correntes que tentam aprisioná-las. Elas representam um grito coletivo por justiça e dignidade. Lutam por mundo onde possam viver livres de violência e opressão.
Susan Mendes
2024